Gostei muito deste texto sobre o uso das famosas "apostilas" e resolvi colocar aqui no blog. Reitero que o mesmo se aplica ao Exame da OAB. Gaste um pouco mais com alguns livros escritos por professores conhecidos, a ter que estudar por uma apostila que você nem sabe quem fez.
Houve uma época em que estudar para concursos públicos significava saber por acaso de algum concurso público que ainda iria acontecer, dar um pulinha numa boa banca de jornais rezando para encontrar uma apostila para tal concurso, estudar um ou dois meses por aquela apostila com alguma seriedade, fazer a prova, passar e ser empossado.
(In)Felizmente essa época passou faz tempo, a Internet e a reestruturação remuneratória da administração pública a mataram e enterraram sobre bons sete palmos de terra. Explico. Desde o governo FHC o sistema remuneratório da administração pública brasileira passou a ser reestruturado e melhorado a fim de profissionalizar a carreira pública com os melhores profissionais do mercado, a lógica é simples, o governo paga melhor que a iniciativa privada e, com isso, atrai os melhores profissionais. A Internet, por sua vez, facilitou em muito a divulgação de informações sobre concursos públicos, sendo um dos fatores responsáveis pelo boom qualitativo e quantitativo de candidatos à carreira pública.
Certo, temos de um lado o governo pagando remunerações muito interessantes, além de oferecer estabilidade e otras cositas más, e de outro um maior acesso à informação sobre concursos públicos. Com isso o número de candidatos nos concursos públicos aumentou vertiginosamente na última década. A concorrência aumentou. As bancas passaram a cobrar as matérias previstas no edital de forma cada vez mais difícil e sofisticada. O nível dos concurseiros sérios aumentou mais que proporcionalmente. Em resumo, as coisas ficaram mais difíceis para quem quer se tornar servidor público.
Para fazer frente a esse "admirável mundo novo e muito mais concorrido e difícil" dos concursos públicos, novas editoras e editoras até então especializada sem livros jurídicos passaram a editar livros específicos para quem se prepara para concursos públicos. O nível de conhecimento dos concurseiros empossados em cargos públicos de nível médio e superior é muito mais hoje do que a dez anos atrás, isso é fato inegável.
Tudo muito bom, tudo muito bem ... não tanto. (In)Felizmente ainda há muita gente parada no tempo achando que estudar para concursos públicos é comprar uma apostila logo depois da publicação do edital e estudar um ou dois meses com alguma seriedade para passar e ser feliz. Duvidam? Só essa semana recebemos no blog quatro emails de concurseiros pedindo indicações de apostilas para concursos públicos, dois especificamente para o "fácil" concurso da da AGU (Advocacia Geral da União)!
A definição de apostila como material de estudo é clara, simples e direta ... "Resumo de aulas ou preleções, distribuído em cópias aos alunos ou ouvintes". Sim, meus amigos concurseiros que ainda não se tocaram disso, apostilas são resumos de matéria, nada mais. E como é possível estudar por um resumo sem se ter estudado o material que deu origem ao resumo? Difícil, não?!
Deixando de lado a qualidade deplorável da maior parte das apostilas para concursos públicos existentes no mercado, meras coleções de "copia e cola" de leis (muitas vezes desatualizadas), material doutrinário sem fonte, até material colhido da Wikipedia, analisemos esse material do ponto de vista do aprofundamento das matérias.
Imaginem dois concurseiros, gêmeos idênticos, inclusive no nível de conhecimento, capacidade de aprendizado e memorização, vontade de estudar e tudo o mais. Ambos resolvem prestar o mesmo concurso, prestarão prova na mesma sala, no mesmo horário, em carteiras paralelas. Ou seja, até começar a estudar estão em total pé de igualdade. Então um compra uma apostila das melhores entre as disponíveis no mercado e começa a estudar. Outro compra vários bons livros das matérias e começa a estudar. Enquanto um estuda Direito Administrativo na apostila em um resumo feito sabe-se lá por quem, outro estuda a matéria pelo famoso "Direito Administrativo Descomplicado" do Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, valendo a mesma diferença marcante para as outras matérias que têm de estudar. Chega o dia da prova, a banca é a ESAF ... em quem você apostaria seu dinheiro que vai melhor nessa prova?
Claro que apenas o material de estudo não determina se alguém vai bem ou mal em uma prova. Há muitos outros fatores envolvidos. Porém, o material de estudo é a matéria-prima do concurseiro. Do mesmo modo que mesmo o melhor padeiro dificilmente fará um excelente pão com uma farinha de trigo vagabunda, de terceira qualidade, assim também o melhor concurseiros dificilmente conseguirá se preparar bem para uma prova de concurso público estudando apenas com uma apostila.
Notem que acredito que ainda há, sim, lugar para as apostilas nos concursos públicos. Elas podem ser usadas com sucesso em concursos de nível elementar (antigo primeiro grau) e para alguns concursos bancários (como escriturário do Banco do Brasil, por exemplo), mas apenas isso.
Resumo da ópera - Se você ainda acha que dá para estudar para concursos públicos com apostilas (a não ser para uma das exceções que citei), então já passou a hora de você rever seus conceitos.
Charles Dias é o Concurseiro Solitário.
Fonte
2 Comentários. Comente já!:
Olá!
Humm... Acho que vc tem razão, parece que até adivinhou que eu estava prestes a comprar algumas apostilas para o TRF e Delegado de Polícia Civil. (rss)
Ia comprar pelo fato delas já estarem somente com os programas das provas, já que ao estudar pelos livros temos que pular alguns itens que não cairão nesses concursos!
Mas, ao pulá-los não sentimos bem... Achamos que faltou alguma coisa, afinal a maioria dos concurseiros já estudou bem ou mal toda a matéria! Eis a questão!
Por outro lado, vejo que alguns blogueiros não agem de forma imparcial ao indicar bons livros de direito para um preparo satisfatório, na verdade, eles nem indicam, ficam em cima do muro.
Talvez pq muitos estejam ligados a uma ou outra editora, fato que os deixam impedidos eticamente de fazer uma ou outra indicação.
Eu queria, creio que tbm a maioria dos concurseiros, que alguns - não posso esperar que todos -, blogueiros (pessoas que nós concurseiros acompanham) e, é certo que ninguém dúvida da notoriedade deles e de seus comentários, que se dignem em indicar os melhores livros de direito para concurso!
Afinal, os blogueiros têm o conhecimento e experiência suficientes para fazerem excelentes indicações.
Grato, valeu.
Olá Paulo,
Gostei do seu comentário. Você tem razão em parte, quando diz que podem existir blogs que tenham algum vínculo com editoras e tudo mais. Mas adianto que não é o meu caso. As minhas indicações neste espaço são de obras que são verdadeirmante úteis ao estudo para o Exame de Ordem - que foi meu objetivo durante algum tempo, e por isso conheço bem...
Quanto aos concursos públicos, ainda não comecei a estudar com afinco para nenhum em especial, o que torna a tarefa de indicar livros um desafio. É preciso conhecer o edital e o livro para que se possa indicar com segurança.
De todo modo, fuja das apostilas.
Um abraço e obrigado pela participação.
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