quinta-feira, 12 de julho de 2012
Servidores que fraudaram concursos foram afastados, afirma PF
Operação Tormenta indiciou 282 pessoas por fraudes em seleções públicas. No total, 62 servidores foram desligados ou impedidos de tomar posse.
Pâmela Kometani*
Do G1, em São Paulo
A Polícia Federal informou nesta quarta-feira (11) que 282 pessoas foram indiciadas e 62 servidores foram afastados ou impedidos de tomar posse por causa das fraudes nos concursos da Polícia Federal, da Receita Federal, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A Operação Tormenta investigava, desde 2010, uma quadrilha que fraudava concursos públicos e também exames da Ordem Nacional dos Advogados (OAB). Nesse último caso, 152 candidatos tiveram acesso antecipado às respostas do exame e 1.076 "colaram" a prova. Segundo o delegado da PF, Victor Hugo Rodrigues Alves, todos os servidores nomeados e os que aguardavam nomeação foram indentificados e já foram afastados ou estão em processo de desligamento.
Alves informou que os candidatos chegavam a pagar para a quadrilha US$ 150 mil (cerca de R$ 300 mil) pelo gabarito das provas. Para o exame da Ordem Nacional dos Advogados (OAB), o valor foi de R$ 50 mil, para a prova de agente da Polícia Federal de 2009, o valor foi de R$ 100 mil. Já o montante de US$ 150 mil seria pago para a prova de auditor-fiscal da Receita Federal de 2009. Os policiais rodoviários federais desviavam as provas durante o transporte e cobravam o dobro do valor para vender os documentos para a quadrilha, que elaborava os gabaritos e os revendia para os candidatos.
"A atuação da quadrilha foi descoberta com o desvio da prova do concurso para agente da Polícia Federal de 2009, mas a partir das investigações encontramos fraudes em concursos anteriores. Não há indícios de envolvimento de funcionários do Cespe/UnB [organizadora do concurso]", afirmou Alves, durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta.
"Infelizmente existiam pessoas na Polícia Rodoviária Federal de má índole. A fraude aconteceu por causa de pessoas e não por causa das instituições", ressaltou Roger Escalante, direitor de inteligência do Cespe/UnB. De acordo com Escalante, a organizadora passou a utilizar lacres de aço no lugar de plástico e não conta com parcerias de outras instituições para a guarda dos malotes das provas.
O Cespe/UnB informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que essas mudanças ocorreram a partir de março de 2010, quando foi deflagrada a Operação Tormenta. Devido às denúncias de fraudes reveladas pela Polícia Federal naquela ocasião, a instituição decidiu aumentar a segurança e passou a colocar os funcionários do próprio Cespe/UnB para fazer o acautelamento das provas.
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Segundo Alves, para evitar novas fraudes, a PF passou a utilizar em seus concursos, a partir de 2010, o Sistema de Prospecção e Análise de Desvios em Exames, software usado na Operação Tormenta. Assim que o gabarito das provas é digitalizado, o software cruza os dados com os gabaritos dos candidatos para identificar possíveis fraudes. O software também foi utilizado no último concurso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
OAB
A PF concluiu que 152 candidatos tiveram acesso antecipado às respostas da primeira fase de três exames da Ordem Nacional dos Advogados (OAB) de 2009. Segundo as investigações da PF, outros 1.076 candidatos, apesar de não terem acessado as questões antecipadamente, “colaram” a prova uns dos outros. A OAB divulgou uma nota informando que vai abrir um processo contra fraudadores do Exame da Ordem. Segundo a nota, o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante espera da Polícia Federal as conclusões do inquérito da “Operação Tormenta”.
Veja a íntegra da nota:
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está solicitando ao Departamento de Polícia Federal o resultado do inquérito sobre as denúncias de fraudes ocorridas nos Exames de Ordem em 2009 para que possam ser abertos processos ético-disciplinares no âmbito das respectivas Seccionais às quais os suspeitos estejam inscritos.
O processo ético-disciplinar visa estabelecer, à luz das investigações realizadas pela PF com total apoio da entidade, o grau de envolvimento e participação de cada um dos suspeitos, que estarão sujeitos, considerada a natureza da infração cometida, às sanções previstas no Estatuto da Advocacia e da OAB, respeitado o devido processo legal.
As aquisições de gabarito dos exames da OAB ocorreram na Grande São Paulo e na Baixada Santista, já a "cola" foi detectada em todo o país.
Para auditar os exames e verificar como ocorreu a fraude, a PF usou o Sistema de Prospecção e Análise de Desvios em Exames, software usado na Operação Tormenta para rastrear os desvios entre as respostas dos candidatos em outras provas. O programa aponta quais candidatos têm a maior possibilidade de terem sido beneficiados, e estes passam a ser investigados. Peritos criminais também fizeram um laudo pericial com análise estatística dos resultados.
Em um dos exames, a segunda fase também foi alvo de fraude e acabou anulada em março de 2010, após serem encontrados os primeiros indícios. As descobertas são desdobramentos da Operação Tormenta, lançada em junho de 2010, que investiga concursos públicos, além do Exame da Ordem.
Segundo a PF, as investigações concluíram que 19 pessoas fraudaram o exame 2009.1, que foi realizado no dia 17 de maio de 2009, 76 fraudaram o exame 2009.2, aplicado em 13 de setembro de 2009, e 57 fraudaram o exame 2009.3, realizado em 17 de janeiro de 2010.
Operação Tormenta
A Operação Tormenta teve início com a denúncia de que um dos candidatos do concurso para o cargo de agente da Polícia Federal de 2009 teve acesso ao caderno de questões da prova às vésperas da aplicação. O desvio do caderno de questões foi confirmado e a PF identificou que isso tinha acontecedi com outras provas do Cespe/UnB e de outros órgãos.
A quadrilha comprava as provas de policiais rodoviários federais e contratavam professores para fazer o gabarito, que era vendido para os candidatos. Além da fraude aos exames da OAB aplicados no ano de 2009, também foram fraudados pela organização criminosa os concursos de agente da PF de 2004, de delegado da PF de 2004, de agente e escrivão da PF em 2001, de auditor-fiscal da Receita Federal de 1994, de agente e oficial de inteligência da Abin de 2008, de analista e técnico administrativo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de 2009.
Os criminosos estão respondendo por vários crimes, como formação de quadrilha, estelionato qualificado, receptação, corrupção ativa e passiva, dentre outros.
*Colaborou Marta Cavallini
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